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Cuidados com a saúde mental durante a pandemia (Parte 2)

Cuidados com a saúde mental durante a pandemia (Parte 2)

Obra aborda cuidados com a higiene pessoal e a saúde mental

Publicada em 08/05/2020, por Priscila Mara Caixeta & Michelli Moroni Rabuske, analistas do MPU/Saúde/Psicologia

No cenário de enfrentamento da pandemia da Covid-19, cada pessoa pode ser afetada emocionalmente em níveis diferentes, apresentando reações mais leves ou mais severas, a depender dos fatores estressores envolvidos. As reações observadas com maior frequência pelos profissionais de saúde mental no atendimento às pessoas são o medo de adoecer ou morrer, de perder pessoas próximas ou os meios de subsistência, de ser excluído socialmente pelo adoecimento, da ausência ou separação de entes queridos e de cuidadores durante o isolamento domiciliar e restrição de interações sociais presenciais, de não receber suporte financeiro ou de transmitir o vírus a outras pessoas. 

Alterações emocionais, cognitivas e comportamentais, quadros ansiosos e depressivos, abuso de álcool e outras substâncias, reações de estresse pós-traumático, entre outros, também podem ocorrer ou se agravar, necessitando de atenção e cuidado. Sentimentos como impotência e falta de controle perante os acontecimentos, irritabilidade, angústia, tristeza são comuns em situações extremas como a de uma pandemia.

No caso do isolamento domiciliar e da restrição de interações sociais presenciais, o desamparo, o tédio e a solidão podem ser intensificados devido a perda da rotina anteriormente estabelecida. Reações comportamentais como alterações no apetite (falta ou excesso), distúrbios do sono (insônia, dificuldades para manter o sono, sono em excesso), conflitos interpessoais com familiares e com a equipe de trabalho, pensamentos recorrentes e repetitivos sobre a pandemia e sobre a própria saúde e de familiares também podem se intensificar.

Alguns grupos populacionais podem ser mais afetados por esses efeitos psicossociais como pessoas que compõem o grupo de risco em relação à Covid-19 e aquelas com doenças crônicas e transtornos mentais e comportamentais preexistentes. Os profissionais de saúde, que atuam na linha de frente no combate à pandemia também estão mais vulneráveis aos impactos emocionais dadas as condições de trabalho que enfrentam – contato direto com o vírus, escassez de equipamentos de proteção individual e recursos para atendimento a todos que necessitam, aumento da carga de trabalho, sobrecarga emocional, morte de pacientes. Desta forma, esses grupos populacionais podem ter maior necessidade de apoio psicossocial.

Como preservar a saúde mental em um momento crítico como o que vivemos?
Estudos recentes indicam algumas estratégias que devem ser utilizadas para lidar com o estresse causado por esse período: avaliar a precisão das informações divulgadas na mídia e nas redes sociais, melhorar nossas redes de apoio familiar e social, combater o estigma associado à doença, e buscar ajuda em serviços de atenção à saúde mental.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e instituições públicas nacionais de relevância científica como a Fiocruz divulgaram recomendações gerais de cuidados para amenizar os impactos psicossociais da pandemia de Covid-19. Entre essas orientações, destacamos:

  • Reconhecer e acolher os medos e receios advindos desse período, buscando suporte em pessoas de confiança e serviços de atenção à saúde mental;
  • Identificar e utilizar estratégias de cuidado que funcionaram em outros momentos de crise ou sofrimento psíquico;
  • Utilizar métodos que auxiliem na redução do nível de estresse agudo como meditação, exercícios de respiração e técnicas de mindfulness;
  • Garantir o uso de pausas sistemáticas em situações de teletrabalho;
  • Manter ativa a rede socioafetiva estabelecendo contato mesmo que virtual;
  • Realizar e estimular ações compartilhadas de cuidado com a finalidade de evocar a sensação de pertencimento social;
  • Dar continuidade a planos anteriores de forma adaptada às condições impostas pela pandemia;
  • Evitar o uso de álcool ou outras substâncias psicoativas como forma lidar com a angústia;
  • Estabelecer limite no tempo de contato com informações e notícias sobre a pandemia;
  • Buscar fontes oficiais de informação: Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde.

É importante ressaltar que as ações de cuidado ajudam a não tornar crônicas reações e sintomas considerados comuns em situações como essa. Caso as estratégias utilizadas não sejam suficientes para a estabilização emocional, é necessário buscar auxílio j profissional em saúde mental.

Onde procurar apoio – Se tiver dúvidas, quiser conversar mais sobre as dificuldades emocionais decorrentes do isolamento domiciliar, ou estiver apresentado reações difíceis de manejar nesse momento, entre em contato com a equipe de assistentes sociais e psicólogas da SSI-Saúde.

A ASPSI/SSI-Saúde está oferecendo acolhimento, orientações em saúde mental e consultas de forma online, pelo eSpace.

O atendimento é protegido por sigilo profissional e pode ser solicitado pelo e-mail pgr-saudemental@mpf.mp.br.

A rede de assistência credenciada para atendimento em saúde mental pelo Plan Assiste pode ser consultada em:http://www.planassiste.mpu.mp.br.

Esta é uma ação de promoção de saúde realizada pelo Programa Saúde em Rede, em conformidade com a Política e Atenção à Saúde Mental no âmbito do Ministério Público Federal.

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Disponível em https://doi.org/10.1016/ S0140-6736(20)30460-8

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