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SSI-Saúde esclarece questões sobre a segurança, eficácia e efetividade da vacina contra a Covid-19

SSI-Saúde esclarece questões sobre a segurança, eficácia e efetividade da vacina contra a Covid-19

Efetividade da vacinação depende, em grande parte, da adesão da população ao programa de imunização

Publicada em 22/01/2021, por Dr. Adérito Guedes da Cruz Filho – Médico do MPF

Depois que a “fumaça branca” saiu da sede da Anvisa, na tarde de 17 de janeiro, finalmente o Brasil pode começar a imunização contra a Covid-19. Mas várias dúvidas têm sido trazidas aos médicos em relação à vacinação.

A SSI-Saúde vai esclarecer todas, começando com o básico:

Para quê servem as vacinas?

A questão pode parecer absurda, por ter resposta óbvia. Mas, nem tanto. A população deve ser vacinada por quatro motivos principais:

1 - Para fazer com que o indivíduo vacinado não fique doente, é claro! Essa é a resposta mais óbvia, mas longe de ser a única resposta.

2- Para reduzir a circulação do vírus na população. Quanto mais pessoas forem imunizadas, menor a chance de que o vírus se transmita entre indivíduos, reduzindo, por tabela, a chance de contaminação individual.

3- Para reduzir a gravidade dos sintomas, caso um indivíduo seja contaminado. Assim como em outras doenças (ex.tuberculose), também no caso da Covid-19 as vacinas reduzem dramaticamente a chance das formas mais graves e do risco de óbito.

4- Para que os serviços de saúde estejam disponíveis para aqueles que, eventualmente, necessitarem de internação. No caso da atual pandemia, a invasão dos hospitais por casos moderados e graves de Covid-19 tem levado ao esgotamento da capacidade dos serviços públicos e privados de saúde receber e tratar não só a própria doença, como também a impossibilidade de internação e tratamento de todos os outros problemas de saúde que normalmente exigem atenção (câncer, problemas cardíacos, traumas etc.).

Segurança, eficácia e efetividade das vacinas

Foi largamente noticiado que a Coronavac apresentou ótima segurança (sem efeitos adversos graves) e uma eficácia global de cerca de 50% no estudo brasileiro. Esse dado precisa ser mais bem detalhado:

Entre as pessoas que tomaram esta vacina 92% e 97% produziram anticorpos contra o vírus da Covid-19 (o SARS-COV2) algum tempo após tomarem a segunda dose. A isso se chama soroconversão. Mas essa produção de anticorpos não é suficiente para se eliminar a chance de adoecer. Foi, então, necessária a comparação entre a porcentagem de pessoas que tomaram a vacina e adoeceram e a porcentagem de pessoas que não tomaram a vacina e adoeceram.

Se considerados todos os casos de pessoas que adoeceram após tomar as duas doses de Coronavac, a capacidade de prevenção da vacina foi de 50,38%. Já para a prevenção de casos sintomáticos que precisaram de assistência ambulatorial ou hospitalar a eficácia foi de 77,96%.

Nenhum dos voluntários que recebeu a Coronavac apresentou quadro grave ou foi a óbito, contra 7 casos graves entre os que não foram imunizados (receberam placebo). Por conta do baixo número de casos graves, no entanto, não é possível concluir que a eficácia tenha sido de 100%, como noticiado.

O que, exatamente, isso significa?

Significa que, no estudo, quem não tomou esta vacina:

- Teve o DOBRO de chance de ficar doente.
- E, em ficando doente, mais teve que o TRIPLO de chance de precisar assistência médica/hospitalar.
- E teve mais de SETE VEZES a chance de desenvolver sintomas graves ou falecer em decorrência da Covid-19.

É importante lembrar que este estudo brasileiro foi feito com profissionais de saúde intensamente expostos à contaminação pelo SARS-COV2, o que pode indicar que a eficácia na população geral venha a ser melhor que a apresentada. Outras vacinas aprovadas para uso em outros países apresentam eficácia global maior que a Coronavac. No entanto, diferenças de desenhos dos estudos não permitem uma comparação direta entre suas eficácias nos estudos prévios à vacinação em massa.

Para saber quais vacinas se saíram melhor que as outras, é necessário que se avalie a sua EFETIVIDADE. A efetividade da vacinação pode ser definida, grosso modo, como a capacidade de se controlar uma doença específica em determinada população a partir da imunização. Ou seja, só será possível determinar a efetividade do uso de determinado imunizante após análise dos resultados da vacinação em larga escala.

Mas, é muito importante lembrar que a EFETIVIDADE da vacinação NÃO DEPENDE apenas da EFICÁCIA da vacina, mas também da COBERTURA VACINAL e da EXPOSIÇÃO de determinada população ao vírus. Por exemplo, uma vacina ideal, com 100% de eficácia, com uma cobertura menor que 20% de uma população altamente exposta ao vírus, terá uma efetividade menor que uma vacina com eficácia de 50% com a cobertura de 100% de uma população com exposição baixa ao vírus. Ou seja, a EFETIVIDADE depende, em grande parte, da ADESÃO DA POPULAÇÃO ao programa de imunização e de medidas de controle de transmissão.

Vale a pena esperar vacinas que apresentam eficácia geral maior e mais seguras que a Coronavac?

De acordo com o panorama da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualizado em 12 de janeiro de 2021, existem 173 vacinas de Covid-19 candidatas em fase pré-clínica de pesquisa e 63 vacinas candidatas em fase de pesquisa clínica, das quais 20 encontram-se na fase III de ensaios clínicos. As vacinas já aprovadas para uso na população americana, brasileira, chinesa, europeia e indiana se mostraram igualmente seguras, ou seja, não apresentaram efeitos adversos graves que impedissem seu uso em larga escala.

No Brasil, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde, cujo informe técnico foi publicado em 18 de janeiro de 2021, traz apenas a Coronavac como imunizante. Por isso, não se sabe SE e QUANDO haverá novas vacinas contra a Covid-19 disponíveis no país. E, quando estiverem disponíveis, quantas doses, para que região do país e para que parcela da população serão distribuídas.

Outra questão é que, mesmo com uma vacina já disponível (Coronovac do consórcio Butantan/Sinovac), dispomos, até aqui, de poucas doses em relação à necessidade. Neste sentido, foi realizada uma estratificação do público-alvo, levando em conta a exposição à contaminação e a susceptibilidade individual e coletiva.

Diante deste cenário, a questão, então, não é quais vacinas podemos escolher, mas qual vacina estará disponível para nosso uso e quando isso ocorrerá. Os especialistas aconselham, portanto, tomar a vacina logo que esteja disponível para você.

Público-alvo

“De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, foram definidos grupos alvo da campanha, a saber: idosos (60 anos ou mais), indígenas vivendo em terras indígenas, trabalhadores da saúde, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas, povos e comunidades tradicionais quilombolas, pessoas com determinadas morbidades*, população privada de liberdade, funcionários do sistema de privação de liberdade, pessoas em situação de rua, forças de segurança e salvamento, Forças Armadas, pessoas com deficiência permanente grave, trabalhadores da educação, caminhoneiros, trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros urbano e de longo curso, trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário, trabalhadores de transporte aéreo, trabalhadores portuários, trabalhadores de transporte aquaviário.” (Informe Técnico Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19, MS., 18/1/2021)

Grupo com morbidades*
“Para indivíduos com uma ou mais morbidades descritas abaixo, de acordo com a faixa etária indicada pela Anvisa:
➢ Diabetes mellitus;
➢ hipertensão arterial (HA) estágio 3; HA estágios 1 e 2 com lesão em órgão-alvo e/ou comorbidades; hipertensão resistente;
➢ doença pulmonar obstrutiva crônica;
➢ insuficiência renal;
➢ doenças cardiovasculares e cerebrovasculares;
➢ indivíduos transplantados de órgão sólido ou de medula óssea;
➢ demais indivíduos imunossuprimidos;
➢ anemia falciforme;
➢ obesidade grau 3 (IMC≥40);
➢ síndrome de Down

Obs.: Indivíduos pertencentes a esses grupos poderão ser pré-cadastrados no SIPNI. Aqueles que não tiverem sido pré-cadastrados poderão apresentar qualquer comprovante que demonstre pertencer a um destes grupos de risco (exames, receitas, relatório médico, prescrição médica etc.) Adicionalmente, poderão ser utilizados os cadastros já existentes dentro das Unidades de Saúde.” (Informe Técnico Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19, MS., 18/1/2021)

E as mutações?

Hoje, já se conhecem algumas centenas de variantes do SARS-COV2. Algumas dessas mutações foram capazes de modificar a transmissibilidade do vírus. Entretanto, não foram suficientes para que os vírus mutantes fossem classificados como uma nova cepa. Ou seja, até hoje, todas essas variantes pertencem a uma cepa, porque compartilham a maior parte de suas características. Assim, as vacinas já produzidas conferem imunidade contra qualquer forma existente do SARS-CoV-2 de que se tem notícia até o momento.

EM CONCLUSÃO

— As vacinas já aprovadas para uso na população brasileira se mostraram seguras;
— As vacinas já aprovadas para uso na população brasileira se mostraram eficazes;
— A efetividade da vacinação depende, em grande parte, da adesão da população ao programa de imunização;
— As demais vacinas não estão disponíveis para escolha, e provavelmente não estarão em prazo curto, seja no serviço público, seja em clínicas privadas;
— Por conta da indisponibilidade de vacinas em número suficiente para toda a população, os grupos prioritários foram determinados pelas autoridades sanitárias, estratificados com base no risco da exposição à contaminação, na susceptibilidade individual e coletiva para desenvolvimento de formas graves da doença;
— Apenas a vacinação não é “passe livre” para que se relaxem as medidas de redução de transmissão (uso de máscara, higiene das mãos, etiqueta respiratória, evitar aglomerações, etc).

Tomar a vacina e manter hábitos que reduzem o risco de transmissão são questões de saúde, de respeito e de cidadania.

 
*Assista ao vídeo produzido pela Assessoria de Comunicação do MPF/MT

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