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Transtorno do Espectro Autista: como buscar diagnóstico e tratamento adequados

Artigo publicado por Priscilla Mara Caixeta, Larissa Goulart Tomasi e Michelli Moroni Rabuske, Analistas do MPU – Psicologia
Publicada em 11/04/2022

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta aproximadamente 1% da população. O diagnóstico desse transtorno ocorre com frequência quatro vezes maior em pessoas do sexo masculino do que no feminino, conforme estimativas do Center for Disease Control (CDC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). A expressão Transtorno do Espectro Autista passou a ser utilizada a partir da vigência do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em 2013. Foram incluídos no TEA quadros clínicos anteriormente denominados de Autismo, Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação. O TEA se expressa por níveis de comprometimento funcional e gravidade relacionados à necessidade de apoio.

De acordo com o DSM-5, as características essenciais do TEA são o prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social e, também, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sinais estão presentes desde o início da infância, entretanto, podem não se mostrar completamente manifestos até que as exigências contextuais excedam a capacidade da pessoa em responder às demandas dos diferentes contextos sociais.

A conscientização sobre o TEA é necessária uma vez que pacientes em todas as faixas etárias encontram muitas dificuldades na realização de avaliações médicas, neuropsicológicas, fonoaudiológicas e em terapia ocupacional. Nesses casos, o diagnóstico deve ser realizado pelo médico com contribuições dos demais profissionais citados. Quanto mais precocemente ocorrer o diagnóstico correto, mais cedo será iniciado o tratamento adequado.

Avaliação, Diagnóstico adequados

As pessoas com TEA, nas diferentes faixas etárias e níveis de gravidade do quadro clínico, ainda enfrentam discriminação e preconceito, o que dificulta o acesso à avaliação e ao tratamento multiprofissional necessário. A abordagem multiprofissional permite recomendações e adaptações para inclusão e otimização da sua funcionalidade e potencialidades, especialmente nos contextos sociais como escola, instituições de educação superior e ambientes de trabalho.

Historicamente, a ênfase da produção de conhecimento científico sobre o TEA foi direcionada à infância e aos casos com expressão sintomática de maior gravidade. As outras faixas etárias passaram a representar maior interesse após 2013, com a atualização dos critérios diagnósticos do DSM-5, mas os estudos permanecem reduzidos na faixa etária adulta. Consequentemente, a identificação tardia ainda é uma realidade, apesar do aprimoramento na detecção dos sinais precoces que indicam a hipótese de TEA, o que já pode ocorrer no primeiro ano de vida, em casos de maior gravidade, e no segundo ano de vida, em casos mais sutis. O desconhecimento da heterogeneidade do quadro clínico por parte de profissionais de saúde generalistas também pode retardar a realização de diagnóstico correto.

Quanto mais precocemente se iniciar o tratamento de saúde, melhor será o prognóstico. O tratamento deve ser individualizado e interdisciplinar. Além do tratamento médico e do tratamento psicológico, pessoas com TEA podem necessitar de fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outros tipos de intervenções realizadas por profissionais de saúde.

Os adultos que não receberam o diagnóstico na infância, que não apresentam comprometimento intelectual e/ou apresentam alto funcionamento, terão maior probabilidade de buscar por assistência em saúde mental especializada quando enfrentam outros quadros clínicos comuns e prevalentes na população em geral, como transtornos depressivos, transtornos de ansiedade, transtornos de adaptação, transtornos do sono-vigília.

Na fase adulta, as pessoas com TEA podem apresentar prejuízos no funcionamento psicossocial, dificuldades na inclusão efetiva no mercado de trabalho em ter uma vida independente, em participar de atividades de lazer e socialização. Por isso, as intervenções precisam ser acompanhadas por ações mais amplas, tornando os ambientes físicos, sociais e atitudinais mais acessíveis, inclusivos e de apoio. Neste sentido, o diagnóstico correto do TEA é importante e deve considerar o histórico individual e familiar, comportamental e funcional pregresso, bem como as condições de saúde atuais, além de observações clínicas conduzidas por uma equipe multidisciplinar experiente. 

Os avanços quanto ao diagnóstico e tratamento multidisciplinar bem como os progressos na inclusão de pessoas com TEA no ensino formal são fatores que impulsionam a busca por inserção no mercado de trabalho. Essa inclusão laboral está associada ao incremento do bem-estar e da qualidade de vida, oportunizando que a pessoa participe das diversas esferas da vida social.

Todavia, muitos desafios podem se apresentar nessa inserção no mundo do trabalho, como a dificuldade de ingressar no emprego, de manter-se nele e de conseguir uma posição compatível com sua formação. Dificuldades na reciprocidade social, comportamentos e interesses repetitivos, hipo ou hipersensibilidade sensorial (ruídos e outras condições ambientais) também são fatores que podem impactar nas relações de trabalho e, consequentemente, influenciar na saúde mental da pessoa com TEA. Além disso, comportamentos discriminatórios das pessoas da equipe e exclusão baseada na falta de compreensão sobre a diversidade comportamental podem ser fatores que impactam negativamente a adaptação ao trabalho.

Exemplos de adaptações que podem auxiliar no contexto de trabalho:  adequação de estímulos ambientais (iluminação, ruídos, temperatura, etc); acordos e descrição das tarefas, deveres e responsabilidades de forma clara e com antecedência; respeito à necessidade de rotina e previsibilidade; adaptações no cumprimento da jornada de trabalho, incluindo autorização para o trabalho não-presencial, se necessário.

 É fundamental sensibilizar equipes e gestores a respeito das especificidades e potencialidades das pessoas com TEA, bem como esclarecer sobre seus direitos no ambiente de trabalho. A Lei 12.764/2012 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A legislação estabelece os direitos fundamentais da pessoa com TEA e possibilita a articulação de ações voltadas para essa população. Além disso, o instrumento jurídico equipara a pessoa com TEA à pessoa com deficiência para efeitos legais, sendo essa uma condição fundamental para acesso a políticas públicas, como exemplo o acesso a concorrência em vagas reservadas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho, tanto no setor privado quanto no setor público.

Com a finalidade de difundir informações para a população sobre as condições que envolvem o Transtorno do Espectro Autista e chamar a atenção para a relevância de se conhecer e tratar esse transtorno, a Organização das Nações Unidades - ONU estabeleceu, desde 2008, o dia 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo. No Brasil, a mesma data passou a receber destaque desde 2018.

Caso necessite de mais informações sobre o Transtorno do Espectro Autista, entre em contato com as equipes de Psicologia e Serviço Social da SSI-Saúde:

Equipe de Psicologia: pgr-psicologia@mpf.mp.br

Equipe de Serviço Social: pgr-sersocial@mpf.mp.br

 

Esta é uma ação de promoção de saúde mental realizada pela SSI-Saúde em conformidade com a Política e Atenção à Saúde Mental no âmbito do Ministério Público Federal. Mais em https://saude.mpu.mp.br/portaldasaude/noticias

* Priscilla Mara Caixeta é Analista do MPU/Psicologia, Psicóloga CRP 01/13425, Graduação em Psicologia pela Universidade de Brasília (2007); Especialização em Gestão Pública com Ênfase em Gestão Governamental e Políticas Públicas/UPIS – DF; Especialização em andamento em Psicanálise Lacaniana /Faculdade Inspirar.

* Larissa Goulart Tomasi é Analista do MPU/Psicologia, Psicóloga CRP 01/13585, Graduação em Psicologia pela Universidade de Brasília (2008); Especialização em Psicologia Clínica pelo Centro de Gestalt Terapia de Brasilia/ CEGEST – DF; Especialização em Psicologia e Maternidade pela Universidade de Araraquara/UNIARA.

* Michelli Moroni Rabuske é Analista do MPU/Psicologia, Psicóloga CRP 01/18015, Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria-RS (2002); Doutorado em Psicologia (2009) e Mestrado em Psicologia (2004) pela Universidade Federal de Santa Catarina-SC; Especialização Multiprofissional em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina-SC (2005); Formação em Psicologia Clínica - Terapia Relacional Sistêmica pelo Instituto Familiare-SC (2009); Especialização em andamento em Neuropsicologia Clínica pelo Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Ciências Cognitivas/IBNEURO-DF (2020-atual).

 

Referências Bibliográficas:

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