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Manifestações Bucais da Covid-19

Manifestações Bucais da Covid-19

Conheça os sintomas que podem ocorrer na boca de pacientes com o novo coronavírus

Publicada em 19/10/2020, por Melissa Ferreira Alves Dias

Sabe-se que a cavidade bucal é uma interface importante entre o exterior e o corpo, sendo considerada o seu “portal de entrada”, portanto, local de risco de infecção e transmissão de microrganismos. Especialmente no contexto atual de pandemia do novo coronavírus, sabe-se que o SARS CoV 2 tem receptores específicos com os quais se liga à cavidade oral e que, aparentemente, quanto maior a carga viral, maior é a gravidade da doença. Sendo assim, a diminuição da carga viral bucal pode ajudar a diminuir os quadros graves da doença.

1) A pessoa com Covid-19 pode apresentar manifestações bucais da doença?

Sim. Até agora, observamos alterações de paladar e também lesões em mucosa oral. Sendo que, as alterações de paladar estão entre as manifestações mais comumente relatadas, tendo, os estudos científicos atuais mostrado que, pelo menos 50 % dos pacientes com quadros leves a moderados da doença, as apresentam. Esta manifestação pode inclusive acontecer antes mesmo das manifestações respiratórias da doença. Portanto, caso tenha alguma alteração de paladar, já procure fazer o auto isolamento e busque orientação médica e odontológica para acompanhar a evolução do quadro.

2) Após início da infecção, em quanto tempo aparecem as manifestações bucais?

Em geral, elas podem acontecer entre 2-24 dias após o início do contato com o vírus.

3) As lesões em mucosas bucais são causadas diretamente pelo SARS CoV 2, o novo coronavírus?

Ainda não se tem certeza. Mas, aparentemente, as lesões em mucosas bucais ocorrem como coinfecções, devido à baixa de imunidade do paciente afetado pelo novo coronavírus ou como efeito colateral do tratamento da doença, seja por conta das diversas medicações ou da necessidade de entubação do paciente mais grave. Por isso, diferentemente das alterações de paladar, ainda que elas possam acontecer em pacientes doentes pelo coronavírus, o aparecimento de lesões em mucosa bucal, isoladamente, não é um indicativo de suspeita de COVID-19.

4) Qual a localização mais frequente e quais tipos de lesões podem ocorrer?

Observou-se a ocorrência de:

  • Bolhas múltiplas em lábio;
  • Úlceras únicas e amareladas ou múltiplas e avermelhadas em língua, palato, lábio e mucosa;
  • Erosões múltiplas e irregulares em gengiva e língua;
  • Manchas (máculas) múltiplas e avermelhadas e de diferentes tamanhos em língua, palato e lábio; e
  • Placas únicas e superficiais avermelhadas em palato e branca na língua.

5) Há tratamento para essas manifestações bucais?

Sim. Para as coinfecções, o dentista saberá indicar o melhor tratamento para cada uma delas, podendo ser essa orientação feita à distância, pelos profissionais da PGR, ou, presencialmente, nos hospitais de referência. Já para as alterações de paladar, por ainda não se conhecer a etiopatogenia do quadro, ainda não se tem tratamento específico, sendo observado seu desaparecimento espontâneo, algum tempo após a recuperação completa do paciente.

6) Problemas dentários podem agravar a Covid-19?

Diversos estudos já comprovaram a relação entre problemas dentários, especialmente problemas periodontais (inflamações ou infecções gengivais), com doenças cardíacas, doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, entre outras doenças sistêmicas. Sendo assim, no caso de pacientes contaminados com o novo coronavírus, a boa higiene bucal e o controle de doenças periodontais pode, sim, prevenir complicações à saúde e, consequentemente, um agravamento do quadro de Covid-19.

7) Como a higiene oral pode contribuir para a diminuição do risco de agravamento da Covid-19?

Ao realizar uma correta higiene oral, há uma diminuição transitória da carga viral, e de bactérias, além de outros microorganismos nos sítios bucais, e, especialmente no caso do novo coronavírus, uma consequente diminuição da chance de disseminação do vírus pela saliva (contaminação de outras pessoas ou superfícies) e diminuição da chance de aspiração dele e outros microorganismos para os pulmões, que podem levar a uma piora do curso da doença. Deve-se lembrar de, antes e após a realização das técnicas de escovação, uso do fio dental e limpador de língua, realizar uma adequada higienização das mãos, preferencialmente com água e sabão (e, na sua impossibilidade, com álcool em gel a 70%), já que elas estarão em contato direto com as mucosas bucais, onde podem se depositar vários microorganismos.

8) Quais cuidados especiais que pacientes com a Covid-19 podem ter em relação à higiene oral?

Em pacientes que estão em acompanhamento do quadro, em casa, deve-se lembrar de sempre manter as mãos bem higienizadas, já que elas são imprescindíveis no acesso à cavidade bucal para o uso do fio dental, do higienizador de língua e da escova de dente. Além disso, é necessário se atentar para que o uso da escova, do creme, do fio dental e da toalha não seja compartilhado com ninguém, e que o armazenamento das escovas e limpador de língua seja feito de forma separada dos demais membros da família, acompanhado do isolamento físico do paciente. Em pacientes internados, é importante que os familiares solicitem a presença de um dentista para a realização de avaliação, adequação do meio bucal, assim como higiene oral diária periódica desse paciente, já que, tanto a Covid-19, quanto as outras possíveis doenças sistêmicas do paciente podem ser agravadas, caso sua higiene bucal não seja feita da maneira correta. Deve ser dada uma atenção especial para a higienização da língua e dos dentes molares (aqueles mais próximos da faringe), para evitar a pneumonia por aspiração, especialmente em pacientes em UTI. A higienização da língua e o uso do fio dental são especialmente importantes para a diminuição da carga de microorganismos bucais. O uso de enxaguantes bucais a base de clorexidina a 0,12% também auxiliam muito nisso, durante esse período crítico de cerca de até 14 dias. O uso pode ser feito por meio de bochechos ou, quando não for possível, embebido em gaze que deverá ser passada nas mucosas, língua e dentes do paciente.

9) Há alguma escova dental que seja mais recomendada?

Há características especiais a serem observadas na hora de se escolher uma escova: é importante que ela tenha cabeça pequena, cerdas macias e preferencialmente retas, e também que ocorra a sua troca periódica, especialmente sempre que o indivíduo estiver em recuperação de alguma infecção nas vias aéreas superiores. A medida é para evitar o risco de recontaminação. Esses hábitos de higiene bucal devem ser adquiridos por toda vida, não somente no período do novo coronavírus, visto que as pessoas podem ser infectadas por outro vírus a qualquer tempo.

10) É necessário ter algum cuidado especial diário com a escova dental?

Sim. Nesse contexto, também é fundamental cuidar da higienização das escovas de dente e dos higienizadores de língua, deixando-os imersos em solução desinfetante à base de água (por exemplo, diluindo-se 1 colher de sopa de água sanitária em 1L de água) ou enxaguante bucal (preferencialmente a base de clorexidina a 0,12%) por 15 minutos após o uso, para evitar a reinfecção. É importante lavá-los em água após o uso e, antes do armazenamento, secá-los bem. Vale à pena realizar também uma desinfecção das superfícies do banheiro com álcool 70% ao término da higiene oral enquanto se aguarda os 15 minutos de ação da solução desinfetante nas escovas e limpadores de língua.

Para escarecer mais dúvidas sobre Covid-19, acesse "saude.mpu.mp.br/covid-19".

Referências

  1. Amorim dos Santos J et al. Oral mucosal lesions in a COVID-19 patient: New signs or secondary manifestations? International Journal of Infectious Diseases 97 (2020) 326–328.
  2. ANVISA / NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 07/2020 ORIENTAÇÕES PARA PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS INFECÇÕES POR SARS-CoV-2 (COVID-19) DENTRO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE. 
  3. Batista SA et al. Alterações orais em pacientes internados em unidades de terapia intensiva Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v. 71, n. 2, p. 156-9, jul./dez. 2014.
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    3. CFO Higiene Bucal Cuidados Que Podem Prevenir Complicações Da Covid-19 https://website.cfo.org.br/sistema-conselhos-alerta-higiene-bucal-pode-ajudar-na-prevencao-de-complicacoes-da-covid-19/ 23/04/2020.
    4. Chaux-Bodard AG et al. Oral manifestation of Covid-19 as an inaugural symptom?  J Oral Med Oral Surg 2020;26:18 https://doi.org/10.1051/mbcb/2020011
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    6. Hamming I et al. Tissue distribution of ACE2 protein, the functional receptor for SARS coronavirus. A first step in understanding SARS pathogenesis  / Rapid Communication / J Pathol 2004; 203: 631–637.
    7. UFG / Webinário 2 - Manifestações Bucais Associadas à COVID-19-  realizado no endereço https://youtu.be/jfwokcJngDs em 25/08/2020.
    8. UFMA / Liga Acadêmica de Diagnóstico Bucal -  Você Conhece as Manifestações Bucais da COVID-19? - Maio/2020.

 

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